quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

livre, leve e solta


"Im fucking crazy,
But I'm free"
Lana del Rey

Nunca foi de minha preferência, mas há vezes na vida em que a única opção é perder o controle. Se jogar pro mundo. Abrir os braços para abraçar a causa e ter a coragem de esperar pelo melhor.
Respirar a efemeridade das situações faz parte da realidade em que o ser humano se encontra. Se existe liberdade, é garantido que não importa a escuridão que faça, mesmo as noites mais compridas amanhecem. A arte de ser livre para fazer o que quiser, onde, quando e com quem lhe der vontade deve ser o motivo do sorriso de cada manhã. 
Sofrer, corroer, gritar, duvidar, pensar, arriscar, sorrir, compartilhar, ser feliz, ter paz, se apaixonar... Eis momentos assim que constroem pontes entre uma história e outra. Te enlouquece, vez em vez... Mas é o que a vida tem a lhe oferecer de melhor.
E recusar nada mais é do que pura asneira.

domingo, 11 de novembro de 2012

vai, voa e vem



Não tem porque tentar cortar a asa do pássaro que quer voar. O esforço para manter as coisas de um certo jeito que te conforte não vale a pena se o fracasso for lhe custar o dobro do tempo e empenho. Já te deixaram voar antes, não é (tão) difícil abrir mão e deixar que voem também. Verás que, em instantes, virarão só um pontinho no céu. Dá vontade de cuidar da ave e convencê-la de que é mais seguro não levantar voo algum - sim. Mas se ela quiser estar por perto, voará por tua volta sem que lhe peças.
Se não, que voem de ti enquanto voltas voando e peregrinando para a atmosfera da realidade.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

derrota da treva


"All the hurt inside you've learned to hide so well.
Pretending someone else can come and save me from myself"
Linkin Park
Dentro de mim decorre uma guerra. Um confronto violento entre a realidade e a ficção, fundamentado por gritos: vence aquele que fizer mais barulho. Em meio a tamanha algazarra, mantenho-me surda. Quando em noites de sensatez, sigo o caminho mais fácil. Branda, deixo a utopia tomar voz, afogando a razão de forma que esta só possa voltar a falar quando lhe concedida a oportunidade: custosa condição, uma vez que a malfazeja quimérica tomara controle da situação. Era o mal festejando, a imaginação cedendo e a razão, muda, aos prantos. Semi-caos solucionado pela prudência que, após uma súplica, congelou aqueles que causavam erupção atrás de erupção. Antes sufocada pelas minhas próprias mentiras, agora iluminada pela graça da sanidade.

domingo, 30 de setembro de 2012

incorpóreo

"I'm beginning to think I imagined you all along"
Arctic Monkeys
Nunca soube decifrar o enigma que te cobre, mas preferi deixar assim. Detesto admitir, mas me cativaste de maneira que cheguei a me apegar. Jogo sujo, uma vez que estou submissa às tuas regras e não o contrário. A cada jogada injusta, observo teu sorriso que esconde a covardia e me quebra, quebra e quebra. Corrói, destrói, serpenteia e esbraveja. Tudo por conta dessa sensação de incapacidade e descontrole da situação que preenche, já que no fim tu não passa de uma incógnita para quem me entreguei cegamente. Confiei desconfiada do erro que eu talvez estivesse cometendo. Hoje sei.
Não nego que se diferenciou perante aos outros; a questão é que não há como comparar algo ou alguém inexistente com qualquer outra coisa. Antes sombra, vulto, mera silhueta - agora é só um código intocável e de impossível resolução. Queria te trazer e desconfigurar, mas não sei segurar fumaça.

domingo, 9 de setembro de 2012

nociva ruína

"Go to hell, for heaven's sake"
Não tenho religião e minha própria crença é um tanto quanto seletiva. Costumo duvidar das coisas, mas me pego apelando para uma força abstrata – sem nome, mandamentos ou rezas. Só uma energia anônima.
Tudo isso só para introduzir a ideia de que não acredito em inferno. Acontece que de vez em quando o tamanho da culpa que me bate devido a certos atos é tanta que chego a crer que, caso exista um, visitarei-o um dia. Talvez ganhe passagem só de ida.
Questiono-me das coisas que me acontecem, mas no fundo eu mereço. Sei que faço coisas boas, mas nem por isso me vejo como uma pessoa bondosa. Atitudes perversas já me fizeram chorar e nem por isso me arrependo. Encontro-me num mundo igualmente atroz, acabando por me sentir no direito de ser do jeito que sou. Risadas, abraços, beijos, mãos dadas, cigarros, bebidas e laços não aliviam. O remorso se contorce - contorço-me junto, urrando em silêncio.
Dói... Porém, num último suspiro de esperança, torço para que sejamos todos apenas vítimas.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

lei de pisciano


Pescar um peixe é um tanto quanto fácil.
Manter na rede de pesca já é outra história. 

 Poucas coisas me fascinam. A questão central é que me apego numa facilidade patética – e me desapego ainda mais rápido. Sendo assim, me refiro à este fenômeno como duplamente estulto. Observo, quero, consigo, adoro, canso, descarto. É sempre essa rotina de buscar, encontrar e repelir. Podem até conseguir me conquistar em 5 minutos, mas garanto que me perdem em 3.
Queria ter coragem de rogar por algo que preenchesse o vazio por maior intervalo de tempo do que de costume, mas o receio de não ser atendida é maior do que a vontade de bagunçar, cerrar o vazio e dar início à inquietação. Mantenho-me de portas abertas, mas não a criar convites. As semanas se prolongam, mas os anos voam – e a perca de tempo, ilesa, sorri e abraça a covardia.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

monotonia





Me esgotei com o tamanho da asneira. Não me agradam mais as mentiras, nem as verdades. Não aguento mais as pessoas - não tolero nem a mim mesma. Me tira do sério tanto vazio, esse ordinário dia a dia que eu atuo como quem suporta sem problemas. A proporção que o conformismo tomou me enoja e a utopia da ficção que inventei já me irrita mais do que agrada. Fim fatal e cruel, só suplico por um reviravolta.

sábado, 4 de agosto de 2012

cinza

"You'll be the one who cannot talk,
All your insides fall to pieces"
Radiohead

Entre o melancólico e o harmônico, o preto e branco e o colorido, o raio de sol ou a escuridão da noite. Se exilar do mundo ou abraçar o mesmo. Vejo uma pilha de livros, garrafas vazias esperando para assistir a ressaca que estaria por vir, uma janela entreaberta e uma estrela - talvez um avião. O som de um saxofone desafinado, uma lâmpada falhando e um perfume doce, convidativo. Melancolia. Colisão de pensamentos, dúvidas e uma vontade ridícula de sentir dor.

domingo, 29 de julho de 2012

conselho de ninguém




Mergulho em incertezas até me afogar, sentir a respiração falhar, a perna fraquejar, o coração apertar. Realidade efêmera, mal dura até que eu tome o susto que me abre os olhos e provoca-me angústia, mil perguntas afim de desvendar o motivo de cada omissão. Me dói. Entreguei-me sem pensar. Era pra ser tão pequeno, não passar de um detalhe. Mas eu sempre aposto, sempre finjo pra mim mesma.
No final acabo com uma lasquinha a menos. Menos coração e mais desconfiança.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

peneira


Nada cativava? Mentira. Só era complicado. Era difícil. Era efêmero. Era a brisa refrescante de dez segundos que batia no dia de calor.
Nada a tocava? Mentira. Só era complicado. Era difícil. Era superficial. Era a ponta da massa de gelo flutuante no mar, surpreendente iceberg com 90% de seu corpo afogado, invisível, inatingível.
Nada a mudava? Mentira. Só era complicado. Era difícil. Era raro. Era a manilha de às de paus do truco precisando de muito jogo de cintura para não ser desvalorizado.
Nada a fazia desistir? Verdade. Só era clichê. Era insistente. Era gratidão. Era saber nadar tanto na direção quanto contra a maré.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

infelicidade deslumbrante

Na dúvida de se comprava uma cerveja ou um café.
Chorar às vezes embeleza tanto as pessoas, ela pensava.
- Qual o grande mal de chorar, Leo? - indagou enquanto andavam lado a lado na calçada.
Ela olhou para o outro lado da rua e viu um bar. Ainda não sabia o que pedir, mas o pegou pela mão e o guiou até lá.
- Eu gosto de chorar. Acho bonito a dor que a gente sente se transformar numa gotinha de água. Gosto dos olhos úmidos, dos suspiros. Aquela sensação de sentir o corpo fraquejar.
Ele ficou quieto, pegou duas cervejas.
- Ah, não, querido! - alertou, enquanto forçava um sorriso - Quero um café.
Ele abriu a garrafa fazendo pressão na tampa com a palma da mão, mas não bebericou um gole sequer até que o café dela chegasse. Ela pegou o açúcar, um minuto depois, e despejou na caneca. Misturou com a colher e voltou a falar:
- Você não acha, Leo? Eu evito chorar, você sabe... - ela falou, dando um gole e passando a língua nos lábios logo depois - Mas, quando choro, é tão bonito. Qual foi a última vez que você chorou?
Ele passou a pensar, olhando para cima tentando se recordar de tal lembrança, mas antes que ele conseguisse:
- Ah, Leo, é verdade, vocês meninos não choram, não é mesmo?
Ele sorriu e levou o bico da garrafa de novo até a boca.
- Eu acho besteira chorar por bobagem, mas chorar por coisa importante, coisa que toca a gente... Acho lindo. Gosto de ter certeza de que as pessoas não são tão frias como demonstram.
- Que asneira! - ele disse, finalmente. No entanto, estava sério.
- Eu sei - admitiu, revirando os olhos e dando um sorriso distraído, os olhos fitando a fumaça que saia do café - É só que eu... Eu chorei tanto por um filme que assisti outro dia, me senti uma criança. Mas quando me olhei no espelho, me senti tão...
- Tão o que?
- Tão gente... Viva.

domingo, 15 de julho de 2012

correnteza: sete mares

O café esfria, o cigarro apaga, a fase passa, a música acaba, as pessoas mudam e os sentimentos se alteram. A vida é instável.

ato de superestimar


Pegou um pedacinho de madeira seca do jardim que havia caído da árvore, descartado do tronco da mesma. E fingiu que era de metal, de aço. Brincou, pondo fé que não haveria um rachado sequer caso o jogasse no chão, pisasse, arremessasse longe. E fez tudo isso, quase pondo a mão no fogo com a certeza de que estava tudo sobre controle. Mal sabia que havia transformado o pedacinho em trapo.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

porém dos poréns

"Keep imagining meeting, wished away entire lifetimes
Unfair we're not somewhere
Misbehaving for days, great escape
Lost track of time and space
She's a silver lining, climbing on my desire"
Arctic Monkeys

O sol se tornaria lua e o céu, com sol a pino, se converteria num mar de estrelas. Não teria raio de luz que aquecesse a pele, só um luar acompanhado de um sereno gelado. Não teria crianças andando de bicicleta na calçada, mas jovens sentados em roda com garrafas meio cheias, meio vazias e maços de cigarro meio cheios, meio vazios. Não haveria muito movimento - no máximo um casal de mãos dadas, rindo distraidamente. Decerto, sem crepúsculo, o céu arrosado já teria se transformado num azul marinho que, em algum ponto crucial da noite, voltaria a amanhecer.
No entanto, na utópica ocasião do dia nunca mais voltar a nascer, eu apostaria e pagaria para ver. Com esse porém, sim, daríamos certo.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

ebulição não; condensação

Passou o batom. Admirou a boca que beirava ao escarlate e forçou um sorriso. Sentiu uma breve sensação morna por dentro, parecia amolecer gradativamente. Engoliu a carência e apertou os lábios, acabando por suspirar. Saiu de casa - e sabia que, independente do esforço que fizessem, não conseguiriam desviar os olhos dos lábios dela se a olhassem, nem que distraidamente. Por fora, um ar independente repleto por indiferença a potencializava perante as outras jovens. Internamente, ignorava a solidão e a substituía pela fumaça que inalava do cigarro que acabara de acender. Borrou o filtro do mesmo de vermelho. Queria alguém para encorajá-la a derreter, mas era um fato social que deixaria a desejar. Não só acanhada como contida pelo estúpido medo da sua falta de comprometimento com os outros e pelo receio de não encontrar quem a conseguisse impulsionar, revirou os olhos. Na dúvida de se alguém havia reparado em seu gesto típico, olhou em volta. Nada. Sempre nada. 
O vazio do nada.
Só o pobre, miserável. Apenas ele, o detestável. O nada.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

encontro marcado

Ele não era nem de longe o mais bonito, enquanto ela era o sonho de qualquer um. Ele era estranho, usava óculos, magricelo, cabelos ruivos desgrenhados e pele branca, sempre aparentando palidez. Ela, por sua vez, era parâmetro de beleza para as garotas mais novas.
A história era que ele era o sonho da jovem. E por mais que essa fosse a condição, ele não dava lá muita importância. Não tanta quanto maioria dos meninos dariam.
- Chamei algumas pessoas para passar a noite em casa hoje. Se você quiser ir... - ela convidou, sutilmente.
- Acho que vou ficar em casa mesmo - ele respondeu, calmamente.
Ela o olhou, séria, esperando que ele mudasse de ideia ou algo do gênero. Roía as unhas.
- Não sou de fazer média ou ir à lugares muito cheios, se me entende - ele explicou.
- Entendo, não é fã de companhia - ela disse, agora olhando para as unhas, desapontada.
Ele então passou a andar, após fazer um gesto distraído e sorrir para a garota.
- Sabe - ela disse, fazendo-o olhar para trás em seguida - Se quiser ir tomar um café ou coisa parecida, não sei - concluiu, timidamente.
- Aprecio seus convites, de verdade - ele falou, dando meia volta e parando na frente dela - Mas não pode discordar que acabaríamos sem assunto. Pode ser constrangedor. Sei que não está acostumada com essas situações e está sempre rodeada de pessoas falando sem parar, mas eu não sou a companhia que você quer que eu seja.
- Vinicius, não estou esperando nada de você, ao contrário de ti, que está me vendo como um mero rostinho bonitinho, uma loira burra ou qualquer outra bosta que o valha - insistiu, alterando a voz - Não se feche tanto, eu posso te surpreender - ela avisou, continuando em seguida com um sorriso estampado - Podemos não conversar também, sei que gosta de café. E tem uma cafeteria excelente aqui perto.
Ele levou alguns segundos, mas retribuiu o sorriso.
- Certo. Você quem sabe. Quer ir agora ou mais tarde?
- Estou de uniforme. Gostaria de ir pra casa antes, mas hoje não vai dar tempo. Que tal amanhã? - sugeriu.
- A gente se fala, combinado? - ele disse, olhando para o relógio e ajeitando os óculos em seguida, que havia se deslocado com o movimento anterior.
Trocaram seus números de celular e Vinicius retornou a caminhar em direção a sua casa. Ela, por sua vez, sorria como boba. Adorava a ideia de ter a chance de sair com alguém que estaria interessado em muitas outras coisas antes de levar em consideração as voluptuosas curvas de seu corpo. Além do fato de que teria de se esforçar para conhecê-lo, desfechá-lo, ou ao menos tentar ambas as possibilidades. Se perguntava se seria um encontro enquanto passou a andar animada na direção de sua casa, eis uma mensagem lhe informando endereço e horário de onde se encontrariam no dia seguinte. Sorriu.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

miúdos

Os pingos eram finos, quase inexistentes, mas os dois estavam sem casaco e por isso sentiam um por um tocando-lhes a pele. Arrepiados, eles caminhavam a passos apertados na rua asfaltada e deserta. Ele sentia mais frio que ela,  mas mesmo assim disse:
- Se eu tivesse um casaco, lhe ofereceria.
Ela retribuiu com um sorriso, mas foi só, e continuou andando. Olhava para ele de vez em quando.
- No que está pensando? - ele perguntou.
- Que a chuva poderia parar - ela respondeu, honesta e rapidamente.
- Não gosta da chuva?
- Você gosta?
Mais uma vez, os dois se perguntaram questões cuja resposta era desconhecida - nenhum deles se dava ao luxo de responder. Como de costume. Ele tirou um cigarro do maço e olhou para ela, entristecido:
- É o último. Podemos dividir.
- Não se encomode, odeio fumar na chuva - ela respondeu, agora parando na frente de uma cafeteria cuja varanda era coberta - Vamos ficar aqui até a chuva diminuir, certo?
- Quer entrar? - ele disse, logo após acender o cigarro, parando para olhar os casais do lado de dentro, comendo pãezinhos, bebericando seus respectivos cafés - Estou com fome.
- Você nunca sente fome, só está com vontade de me pagar um café por pura educação - ela disse, séria, mas percebeu que estava sendo rude e forçou um sorriso depois de alguns segundos - Estamos com pressa, querido, não precisamos entrar. Basta me dar um trago do cigarro e vamos andando.
- Eu estou com fome, venha - ele disse, lhe passando o cigarro e entrando no café logo em seguida, deixando-a sem outra alternativa senão acompanhá-lo.
Ela entrou, sentou-se no balcão ao seu lado, fitando o cigarro e batendo o pé no chão.
- Porque tanta pressa? Você nem queria ir a esse festival... - ele disse, pegando o cardápio.
- Mas já que vamos... - ela disse, chamando o garçom - Dois expressos, por favor, e rápido, se não for pedir demais - o garçom fez sinal de sim com a cabeça e saiu sem dizer nada.
- Vou ao banheiro - disse ele, com impaciência ao se levantar. Depois de entrar no toalete, se olhou no espelho, ajeitou os óculos, a camiseta e o cabelo molhado. Pensou consigo mesmo se tocava no delicado assunto que os fizera brigar dias antes, e ao decidir fazê-lo, respirou fundo.
Deu meia volta e, ao avistar o balcão, o encontrou vazio. O cigarro queimava e o garçom deixava os dois cafés aonde eles estavam sentados minutos atrás, mas nenhum sinal dela - fora a porta de saída, que acabara de se fechar.

aceleração

Falar que a vida é curta demais é pretexto, acredito. Ninguém que tenha senso terá coragem de me pedir para esperar. Ser impulsivo ou não já é questão de opinião. Opinião não, experiência. Esperar o que se sentir a satisfação corroer é a melhor das dores? Dor passageira - por isso, só por isso, ás vezes dói. De resto faço, inconsequente, cega pelo credo do destino cuja fé domina-me. Prossigo, onipotente.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

pulso involuntário

- As vezes, encontramos um alguém que faz a gente se sentir capaz de qualquer coisa. Que parece fazer teus problemas sumirem por uma fração de segundos, ou mais. Que te faça soltar um riso histérico, uma gargalhada que tu não dava há meses. Que te deixa com vontade de enfrentar teus problemas, porque quando tu tá com ela, te bate uma força.
Disse minha professora de sociologia. Eu e ela havíamos saído para almoçar. Acontecera poucas vezes antes, ela sempre estava corrigindo ou fazendo provas, trabalhos, lendo livros importantes ou ocupada com seus respectivos filhos. Já estávamos no cafézinho, quase indo pagar a conta.
- Parece frase montada, mas é mesmo verdade... As vezes realmente damos a sorte de achar um alguém que dê graça ao nosso dia a dia - ela finalizou, sorridente. Deu um trago no cigarro e então me olhou nos olhos, inclinando a cabeça e acabando por me olhar por cima dos óculos meia-lua. - Você está sorrindo... Em quem está pensando? - indagou, ajeitando os óculos e voltando a tragar o cigarro, já quase no final.
- Eu? - perguntei, surpresa - Ah, num amigo meu - respondi, honesta, conseguindo imaginar o sorriso dele perfeitamente na minha cabeça.
- Sabe o que acontece, jovem? - ela disse, agora séria e bebericando seu café - Não é ele quem tu valoriza ao máximo, é? Quer dizer, pode até ser - ela disse, dando um trago no cigarro e soltando sua fumaça enquanto organizava seu raciocínio - Mas, me diga, é ele quem define teu humor? Quem tu daria de tudo para passar um dia inteiro ao lado? É nele que tu pensa antes de dormir? É ele que tu tenta impressionar? É a opinião dele a que mais importa? - ela falou, agora sem um sorriso no rosto.
Aposto que eu já não estava mais sorrindo também.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

venda de seda

"I get this feeling sometimes,
like there's nothing in the world
that can't be mine"
The Kooks
Mania de achar que posso ter tudo o que quiser na hora que quero enquanto a vida vai mostrando que não é bem assim. Tentar controlar a fortuna mal sabendo da perda de tempo que está me causando. Chamaria isso de falta de olho nos olhos, mas descobri que não é falta de conversa. É só um mesquinho receio de não ter o melhor possível ao se dedicar por isso. Aperta, sufoca, aflige... mas eu preciso soltar as rédias. Aceitar que, por mais que eu tenha meus momentos sozinha na praia deserta, a cidade espera com o centro conturbado e turbulento. Faz parte e eu não posso fingir que ainda não aprendi.

domingo, 29 de abril de 2012

reciprocidade

"If it's true you're gonna run away,
Tell me where, I'll meet you there"
Arctic Monkeys
Desestabilizou. O que antes era seguro e concreto reflete agora num vazio desconfiado, que não sabe quem chamar para substituir o espaço que conquistara. Tarde demais, tornara-se especializado, não cabia mais ninguém. Tinha minha confiança em mãos e foi embora por falta de opção.
"Não chora" é como um estimulante de lágrimas. Lágrimas?
Apenas uma nova maneira de aceitar que eu também preciso de você.

terça-feira, 17 de abril de 2012

insatisfação crônica

"We're forever unfulfilled, can't think why"
Arctic Monkeys

É um clichê de filme americano dizer que a gente quer o que não tem e que, quando o conseguimos, nos cansamos com o mesmo. É um puta clichê. E eu sempre tive certeza de que, se realmente existisse alguém assim na face da Terra, não seria eu. Mas não é proposital.
É involuntário, questão de semanas até que eu me chateie e busque por algo novo... O que é totalmente contraditório - não faz sentido nenhum buscar por outras coisas quando já se tem as que te satisfazem.
O problema é esse. Me satisfazem. Mas quem é que se contenta com o satisfatório? Com o 6 na prova? Com o "bonitinha" ou o "quase"? O problema é se entediar mesmo com um 10.
E essa experiência ainda está em andamento.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

óbito


É como se finalmente eu tivesse atingido um ponto em que nada pode me afetar, nem ferir. Não tem o que ferir. Porém, naquela parte de mim mesma que nem eu entendo - nem tento decifrar -, você parece ainda tentar falar. Martela, devagar, na minha cabeça. Os problemas se cerram, mas o espaço que costumava ser ocupado simplesmente está vazio, escuro, quieto - contudo, o percebo.
Independente de qualquer vislumbre ou impressão de voz que houver, eu jamais vou me dar abertura para admitir que queria poder dividir com você coisas que nunca vou poder. Eu te enterrei, e você nem sabe. Eu desisti, por mais que ainda me faça sorrir quando lembro.
O problema é esse: você sempre foi a parte boa. Houve a parte ruim, mas diferente de quase todos, com você a parte boa sempre falou mais alto. E é dessa parte boa que sinto falta. Da risada, da conversa sincera, do carinho meio vazio. E eu não peço de volta. Nunca. Não peço porque sei, sempre soube, que não voltaria. Martela, frequentemente, mas isso eu espero que o tempo resolva. Não peço uma amizade que substitua e termine o que você começou, só quero ter certeza que consigo me virar sem ter o que um dia me fez tão bem.
Esperança de merda, essa que tenta me convencer que um raio cai mais de uma vez no mesmo lugar.

domingo, 18 de março de 2012

fênix

Ela veio de tão longe.
O começo de cada jornada é a parte mais difícil. Tomar a decisão de recomeçar, seguir um rumo diferente afim de consertar diversas sequelas... nunca foi fácil. Mas ela já estava longe do seu ponto de partida. Andara e crescera tanto que parecia besteira considerar voltar. Então, com um sorriso no rosto e o sol aquecendo sua pele, ela mantinha a ideia de prosseguir - constantemente.
Nesse novo lugar, gerando ocasiões onde a liberdade era a unica voz que falava mais alto que o silêncio, ela jurava que estava feliz. Era aparente; mesmo que as vezes vacilasse, ela nunca deixaria de seguir em frente.
Mesmo fora de sua zona de conforto, fazia tempo que ela não se sentia tão bem. E nada, quanto menos alguém, poderia reverter tal situação.

sexta-feira, 9 de março de 2012

validades

"I wanna be forgotten,
and I don't wanna be reminded"
What Ever Happend, The Strokes

Aí eu faço o que? Ajo com indiferença, porque me ensinaram a fazer isso. Pelo menos, é um dos únicos jeitos que alguém consegue me manter interessada, aparentemente. Então eu falo qualquer coisa, mas depois bate aquela nostalgia. Daquela época que a pessoa ligava, se importava - tanto. E aí reparo que, provavelmente, ela está na mesma situação - a não ser pela parte que me dei ao luxo de sentir saudades. Saudades não, eu não voltaria atrás. Mas é tão vazio ver o quanto mudou. A única conclusão que pude tirar foi "o quanto o tempo passa", e aí depois de alguns minutos, esqueço. Percebo que realmente não muda nada; é só mais um rosto - menos um, talvez? Eu sei lá, eu só não queria ter sentido essa pontada de angústia por ter sido tão violento na época e tão remoto hoje em dia. Mas, e daí? É só a vida.

sábado, 3 de março de 2012

terceira Lei de Newton

"They say it changes when the sun goes down,
around here"
Arctic Monkeys

- Quanta frieza - alegou ele, com ambas as mãos nos respectivos bolsos, encarando-a sem ter certeza se devia ter dito aquilo.
Ela permaneceu quieta, mas abriu um sorriso.
- Te fiz sorrir - ele disse, sorrindo de volta.
Ela sorriu mais.
Mas não respondeu. Não tinha como. Ela era mais uma daquelas meninas que deixava passar com facilidade aquilo que tivesse conquistado facilmente - sem nenhum pudor. E também tinha o interior vulnerável, era mole por dentro... Acontece que não era uma capa que gerava a frieza dela, e sim um conjunto de ocorrências que lhe provou que ela ganharia mais se fosse assim. Não era um ato, ela realmente havia se tornado insensível. Aquele que conseguisse acessá-la, ah, este... Ela saberia o que fazer.
- Não vai dizer nada mesmo? - ele perguntou, depois de mais alguns minutos de silêncio.
- Sabe... - ela disse, encarando-o da mesma forma que ele o fazia - Me perdoe. Não é proposital, eu já fui diferente.
- Eu sei, me lembro. Porque não volta a ser do jeito que era antes? - ele perguntou, curioso.
- Já percebeu que, se eu fosse do jeito que era, você não teria se dado ao trabalho de me fazer essas perguntas? - respondeu, sarcásticamente, antes de sorrir de novo e dar alguns passos na direção do rapaz.

oposta

"The more I see, the less I know"
Red Hot Chilli Peppers
Falam demais, mas são só palavras. O foco é o excesso. Para que? Eu não gosto dessa mania de companhia. Parece uma paisagem em preto e branco, desfocada, mas são só palavras e pessoas com cabeças fechadas. Eu não gosto disso que todo mundo gosta, eu não penso como todo mundo pensa. Não busco os mesmos ideais, não faço questão daquilo que todos querem. Penso sozinha, dia e noite, penso - e queria pensar menos. Mas pensar... Ah, pensar é melhor do que falar.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

"I try, but you see... It's hard to explain"

"It's that feeling when you hear your favourite song. That feeling, whether you're in a car, at a party or alone at home or in bed and you hear this song and it just hits you so strong - that’s what we aim for."
Julian Casablancas

Já fazem alguns minutos que me sentei e comecei a encarar o teclado do meu computador, analisando em seguida as minhas unhas. Aliás, as fiz hoje - estão cinzas. Continuando, além de estar analisando minhas unhas, estou ouvindo música. Strokes, para ser mais precisa. Coloquei o fone de ouvido e aumentei o som - a unica ocasião em que uma música te causa um impacto tão grande quanto ouví-las com fone de ouvido é numa festa.
Tanto faz, só estou enrolando pra botar pra fora essa coisa que a gente sente quando escuta uma música que a gente gosta. Por exemplo, estou ouvindo músicas aleatórias - estava tocando "What Ever Happened" e, enquanto escrevia, começou "Machu Picchu", ambas dos Strokes. E ambas me fazendo sentir essa coisa que ninguém nunca vai conseguir explicar. Essa inquietação que parece eletrificar o corpo todo, mudando seu astral por alguns minutos. Essa coisa que te faz sorrir, só de você poder cantar junto dentro da sua cabeça. Essa coisa que o sub-consciente faz sem autorização, te dando uma sensação que só a música pode te proporcionar - e quando é uma música da sua banda favorita, realmente, é impagável.
No final das contas é muito mais confuso do que parece. Essa força, esse arrepio que você sente quando escuta uma música que te tira do sério de tão boa... essas coisas são as mais simples e marcantes que a vida pode te dar. Como num dia que eu viajava com meu pai e ele me mostrou uma música do Radiohead - ele se arrepiou inteiro.
Caso não esteja acompanhando, simplesmente pare de ler. Caso não esteja interessado(a), faça o mesmo, porque a complexidade é tanta que nem eu estou conseguindo botar pra fora o que estou sentindo (daí vem o trocadilho do título do texto... para quem não sabe, é um trecho de uma música deles). Estímulo não me falta para concluír este texto: estou ouvindo "You Only Live Once" (Strokes, de novo).
É só que quando você finalmente põe os fones de ouvido e aumenta o volume ao ponto de não conseguir e não querer ouvir mais nada, você acaba indo para outra dimensão. A maneira de pensar - ou de simplesmente não pensar é tão agressiva. Mexe com você de uma maneira incomparável.
E é por isso que vou sair de casa em algumas horas, levando só meu iPod e minha caixinha azul-turquesa. Porque eu quero sentir essa coisa de maneira bruta enquanto simplesmente tiro um isqueiro do meu bolso e reparo no quanto o mundo me afeta pouco perto do que uma simples banda nova-yorquina pode me causar.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

novo ar

Eu vi o tempo passar e pouca coisa mudar, então tomei um caminho diferente.
Charlie Brown Jr.

Mudar não é um ato que se escolhe, como qual roupa vestir. É um processo - longo, intenso - que ninguém começa sem motivos. É sempre fruto de uma dor, um aprendizado, um cansaço das lágrimas derramadas à toa, uma insatisfação relutante em relação à realidade em que vive. O tempo faz parte dessa coisa louca e natural que a gente chama de "mudança", no qual nosso modo de ver as coisas passa a se alterar, gerando um novo alguém, muitas vezes mais perspicaz que o anterior.
Nem sempre o que é novo é melhor, mas seria uma pena inverter a reta crescente que aponta para um ponto inatingível que vivemos sonhando em alcançar: se transformar naquilo que sempre quisemos ser. É outra ilusão desse poço de sonhos e utopias que o mundo chama de vida, na qual muitos se afogam. O ser humano é um animal insaciável, mutável, sensível. Não sofrem fases, sofrem mudanças. E, afinal, nada melhor do que a coragem de mergulhar de cabeça quando se sabe nadar.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

climax

"Oh, no, my feelings are more important than yours.
Drop dead, I don't care, I won't worry"
Razorblade - The Strokes.
Sempre desconfiei que sentisse falta. Aliás, sempre desconfiei que também sentisse falta. Na verdade, vou ser honesta: sempre tive certeza. O jeito como ele continua evitando meu olhar revela. Não quer nem saber de enfrentar o que jogou fora, e refletir sobre a perda - eu não daria um passo para trás, sequer. Desde que continuássemos com essa máscara de "indiferença", tudo estaria ótimo. Aceitável, uma vez que a máscara já estava fazendo parte do meu rosto - adaptar-se é mesmo uma arte.
- Ele me perguntou de você - me contaram.
De fato uma surpresa... Não estava esperando por nada, ainda mais vindo dele. Acontece que ele não tem esse direito. Me recusei a olhar em seus olhos. Nem pensei nessa hipótese, simplesmente ignorei - fiquei craque nisso, levei um tempo para aperfeiçoar esse ato. Porém, por mais que eu tivesse passado reto (automaticamente), eu reparei no modo que me olhou. Com o canto dos olhos, ficou aparente - a maneira como ele me encarou. Suponho que quase tenha soltado um riso, mas caso não o tenha feito, foi porque a ausência dos olhos nos olhos lhe fez falta - sei disso porque o conheço, melhor do que ninguém, é um fato. Comprovado. Quantas vezes já não havia me dito tal teoria? Impactante, mas já deixei de ligar.
Uma excessão, essa história - havia começo, meio, mas não o fim. Como se fechassem o livro na metade da leitura. Não há mágoas, mas já comecei outro - obviamente, eles sabem o quanto gosto de "ler".

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

construção de concreto

"Everybody loves a big fat lie"
Closer

Mania essa de depender dos outros, hoje considero um erro. No mundo lá fora, é cada um por si, no fim das contas ninguém realmente morreria por ninguém - e continuam falando demais. Não existe mundo aqui dentro: está sozinho. Olhar em volta, cortar o superficialismo, focar no real e desapegar. Não apoiar-se em ninguém, pois não existem tripés, nem pontes. Depender de outro alguém é ilusão. Manter os olhos abertos e fixar os pés no chão sem a ajuda de ninguém - não permitir-se cair e não pedir ajuda para levantar. Parece lamentável, mas a realidade não tolera miragens, precisa-se saber lidar com o resto, sozinho. A princípio, encara como uma missão impossível... mas com o passar do tempo, me dou até ao luxo de seguir sorrindo.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

relógio dos sábios


Errei quando me abri tão fácil assim, contando o que eu guardava e revelando um mistério que eu valorizei tão pouco. Lhe contei minhas histórias mais doces, independente dos finais amargos - contei desses também. Falei do que me incomodava e no que eu apostava minhas fichas, tudo sem pensar duas vezes... culpa da minha inocência cega. Bobeei, dei chances de graça e confiei sem ter chão. Não faço mais. Esfriei com o tempo. Contar histórias é ótimo, mas não é à toa que os sábios esperam.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

ego

Não me leve a mal. Eu quero você bem pra gente ficar bem. Me desculpa por exigir isso de você, mas eu quero. Fica bem, por mim. Eu te quero bem pra gente ficar bem. Só. Me desculpa pelo egoísmo, eu só estou sendo sincera. Melhora, me chama. Não fica assim, a gente se perde no meio dessas confusões, e eu não quero. Eu não ia gostar. Então só fica como sempre foi e pronto. Admito meu egoísmo, mas não é pedir muito. E, ah, não demora. Já te falei isso: além de egoísta sou impaciente.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

decifra-me

As vezes nem é por mal, a gente esquece de falar. Acha que não precisa, e guarda. Deixa aquela coisa bonita por dentro, sem manifestações, achando que dá pra contar depois. Enrola pra avisar que gosta, pedir desculpas pelos erros, demonstrar afeto. Age seca, coberta por uma capa que não transparece sentimento... mas por baixo se importa. E como se importa. É maior do que pensas. Um dia te conto. Ou se dê conta de descobrir. Sozinho.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

ah, o verão

A areia queimava embaixo dos pés, então dávamos passos rápidos, estávamos descalças. Em pouco menos de um minuto, a água do mar já tocava nossos dedos. Aliviava. A gente sorria e então andava em direção à ponta oposta da praia em que nos localizávamos. A gente andava, andava, andava... Até nos certificarmos de que estávamos longe suficiente. Longe da realidade, talvez. Dos problemas... Não sei, mas perto a gente não estava. Sorridentes, esticávamos a canga na areia e deitávamos na mesma, logo sentindo o sol ardente aquecer nossa pele, nosso cabelo, nosso corpo. Ainda sorrindo, colocávamos fones de ouvido em volumes altamente elevados, agora nos dividindo, cada uma numa realidade. Não distante, ainda compartilhávamos risadas daquele verão quente. Cigarros. Goles de cerveja. Mais risadas. Mais músicas. A tarde voava sem a gente perceber. Dava preguiça, mas a gente tinha que voltar. Antes, um mergulho no mar: refrescar e, logo, caminhar na areia já morna em direção à nossa casa, onde entraríamos na piscina e esperaríamos mais um dia de férias acabar, devagar.