domingo, 29 de julho de 2012

conselho de ninguém




Mergulho em incertezas até me afogar, sentir a respiração falhar, a perna fraquejar, o coração apertar. Realidade efêmera, mal dura até que eu tome o susto que me abre os olhos e provoca-me angústia, mil perguntas afim de desvendar o motivo de cada omissão. Me dói. Entreguei-me sem pensar. Era pra ser tão pequeno, não passar de um detalhe. Mas eu sempre aposto, sempre finjo pra mim mesma.
No final acabo com uma lasquinha a menos. Menos coração e mais desconfiança.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

peneira


Nada cativava? Mentira. Só era complicado. Era difícil. Era efêmero. Era a brisa refrescante de dez segundos que batia no dia de calor.
Nada a tocava? Mentira. Só era complicado. Era difícil. Era superficial. Era a ponta da massa de gelo flutuante no mar, surpreendente iceberg com 90% de seu corpo afogado, invisível, inatingível.
Nada a mudava? Mentira. Só era complicado. Era difícil. Era raro. Era a manilha de às de paus do truco precisando de muito jogo de cintura para não ser desvalorizado.
Nada a fazia desistir? Verdade. Só era clichê. Era insistente. Era gratidão. Era saber nadar tanto na direção quanto contra a maré.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

infelicidade deslumbrante

Na dúvida de se comprava uma cerveja ou um café.
Chorar às vezes embeleza tanto as pessoas, ela pensava.
- Qual o grande mal de chorar, Leo? - indagou enquanto andavam lado a lado na calçada.
Ela olhou para o outro lado da rua e viu um bar. Ainda não sabia o que pedir, mas o pegou pela mão e o guiou até lá.
- Eu gosto de chorar. Acho bonito a dor que a gente sente se transformar numa gotinha de água. Gosto dos olhos úmidos, dos suspiros. Aquela sensação de sentir o corpo fraquejar.
Ele ficou quieto, pegou duas cervejas.
- Ah, não, querido! - alertou, enquanto forçava um sorriso - Quero um café.
Ele abriu a garrafa fazendo pressão na tampa com a palma da mão, mas não bebericou um gole sequer até que o café dela chegasse. Ela pegou o açúcar, um minuto depois, e despejou na caneca. Misturou com a colher e voltou a falar:
- Você não acha, Leo? Eu evito chorar, você sabe... - ela falou, dando um gole e passando a língua nos lábios logo depois - Mas, quando choro, é tão bonito. Qual foi a última vez que você chorou?
Ele passou a pensar, olhando para cima tentando se recordar de tal lembrança, mas antes que ele conseguisse:
- Ah, Leo, é verdade, vocês meninos não choram, não é mesmo?
Ele sorriu e levou o bico da garrafa de novo até a boca.
- Eu acho besteira chorar por bobagem, mas chorar por coisa importante, coisa que toca a gente... Acho lindo. Gosto de ter certeza de que as pessoas não são tão frias como demonstram.
- Que asneira! - ele disse, finalmente. No entanto, estava sério.
- Eu sei - admitiu, revirando os olhos e dando um sorriso distraído, os olhos fitando a fumaça que saia do café - É só que eu... Eu chorei tanto por um filme que assisti outro dia, me senti uma criança. Mas quando me olhei no espelho, me senti tão...
- Tão o que?
- Tão gente... Viva.

domingo, 15 de julho de 2012

correnteza: sete mares

O café esfria, o cigarro apaga, a fase passa, a música acaba, as pessoas mudam e os sentimentos se alteram. A vida é instável.

ato de superestimar


Pegou um pedacinho de madeira seca do jardim que havia caído da árvore, descartado do tronco da mesma. E fingiu que era de metal, de aço. Brincou, pondo fé que não haveria um rachado sequer caso o jogasse no chão, pisasse, arremessasse longe. E fez tudo isso, quase pondo a mão no fogo com a certeza de que estava tudo sobre controle. Mal sabia que havia transformado o pedacinho em trapo.