quinta-feira, 14 de junho de 2012

ebulição não; condensação

Passou o batom. Admirou a boca que beirava ao escarlate e forçou um sorriso. Sentiu uma breve sensação morna por dentro, parecia amolecer gradativamente. Engoliu a carência e apertou os lábios, acabando por suspirar. Saiu de casa - e sabia que, independente do esforço que fizessem, não conseguiriam desviar os olhos dos lábios dela se a olhassem, nem que distraidamente. Por fora, um ar independente repleto por indiferença a potencializava perante as outras jovens. Internamente, ignorava a solidão e a substituía pela fumaça que inalava do cigarro que acabara de acender. Borrou o filtro do mesmo de vermelho. Queria alguém para encorajá-la a derreter, mas era um fato social que deixaria a desejar. Não só acanhada como contida pelo estúpido medo da sua falta de comprometimento com os outros e pelo receio de não encontrar quem a conseguisse impulsionar, revirou os olhos. Na dúvida de se alguém havia reparado em seu gesto típico, olhou em volta. Nada. Sempre nada. 
O vazio do nada.
Só o pobre, miserável. Apenas ele, o detestável. O nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário