domingo, 30 de setembro de 2012

incorpóreo

"I'm beginning to think I imagined you all along"
Arctic Monkeys
Nunca soube decifrar o enigma que te cobre, mas preferi deixar assim. Detesto admitir, mas me cativaste de maneira que cheguei a me apegar. Jogo sujo, uma vez que estou submissa às tuas regras e não o contrário. A cada jogada injusta, observo teu sorriso que esconde a covardia e me quebra, quebra e quebra. Corrói, destrói, serpenteia e esbraveja. Tudo por conta dessa sensação de incapacidade e descontrole da situação que preenche, já que no fim tu não passa de uma incógnita para quem me entreguei cegamente. Confiei desconfiada do erro que eu talvez estivesse cometendo. Hoje sei.
Não nego que se diferenciou perante aos outros; a questão é que não há como comparar algo ou alguém inexistente com qualquer outra coisa. Antes sombra, vulto, mera silhueta - agora é só um código intocável e de impossível resolução. Queria te trazer e desconfigurar, mas não sei segurar fumaça.

domingo, 9 de setembro de 2012

nociva ruína

"Go to hell, for heaven's sake"
Não tenho religião e minha própria crença é um tanto quanto seletiva. Costumo duvidar das coisas, mas me pego apelando para uma força abstrata – sem nome, mandamentos ou rezas. Só uma energia anônima.
Tudo isso só para introduzir a ideia de que não acredito em inferno. Acontece que de vez em quando o tamanho da culpa que me bate devido a certos atos é tanta que chego a crer que, caso exista um, visitarei-o um dia. Talvez ganhe passagem só de ida.
Questiono-me das coisas que me acontecem, mas no fundo eu mereço. Sei que faço coisas boas, mas nem por isso me vejo como uma pessoa bondosa. Atitudes perversas já me fizeram chorar e nem por isso me arrependo. Encontro-me num mundo igualmente atroz, acabando por me sentir no direito de ser do jeito que sou. Risadas, abraços, beijos, mãos dadas, cigarros, bebidas e laços não aliviam. O remorso se contorce - contorço-me junto, urrando em silêncio.
Dói... Porém, num último suspiro de esperança, torço para que sejamos todos apenas vítimas.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

lei de pisciano


Pescar um peixe é um tanto quanto fácil.
Manter na rede de pesca já é outra história. 

 Poucas coisas me fascinam. A questão central é que me apego numa facilidade patética – e me desapego ainda mais rápido. Sendo assim, me refiro à este fenômeno como duplamente estulto. Observo, quero, consigo, adoro, canso, descarto. É sempre essa rotina de buscar, encontrar e repelir. Podem até conseguir me conquistar em 5 minutos, mas garanto que me perdem em 3.
Queria ter coragem de rogar por algo que preenchesse o vazio por maior intervalo de tempo do que de costume, mas o receio de não ser atendida é maior do que a vontade de bagunçar, cerrar o vazio e dar início à inquietação. Mantenho-me de portas abertas, mas não a criar convites. As semanas se prolongam, mas os anos voam – e a perca de tempo, ilesa, sorri e abraça a covardia.