quarta-feira, 30 de novembro de 2011

você

... é uma ferida que eu odeio cutucar. Cada toque faz parecer que o corte acabou de ser feito. Incomoda tanto, ninguém entende. Você é uma porra de uma ferida que simplesmente não cicatriza. É uma história linda de se contar e horrível de suportar o final - parece aqueles filmes que a gente esperava mais do fim.
Fico pensando. Acho que não saro de você porque não tomo meus remédios ou meus cuidados, não faço questão de me ajudar. Caio na tentação de mexer onde sei que não devia até me arrepender, porque realmente dói.
A pior parte disso tudo era lembrar como era antes de me cortar. A parte boa, o motivo pelo qual levo comigo essa ferida, aparenta ser tão distante que parece nunca ter existido.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

plantou, colheu

- Você não tem coragem de olhar nos meus olhos - falei, encarando-o enquanto seu olhar permanecia nos próprios pés.
- Não - respondeu, seco.
- Porque não? - perguntei, impaciente, sabendo a resposta.
- Porque você está certa, e eu preciso ir - falou, se levantando dos degraus daquela praça vazia com cheiro de grama molhada.
O sol batia no cabelo dele, fazendo a cor ficar ainda mais viva. Ele já ia andando, pretendendo me deixar ali, plantada, assistindo-o ir embora mais uma vez.
- Sabe, - falei, alto, fazendo com que ele parasse de andar para me ouvir, ainda de costas - se você realmente for embora, não vou te dar outra chance.
Então ele deu meia volta, com uma mão em cada bolso. Parou em minha frente e esperou que eu continuasse.
- Porque faz isso? - perguntei.
- Sabe que não tenho escolha - falou, cabisbaixo, ainda sem olhar para mim.
Soltei uma risada irônica e então me levantei dos degraus.
- Boa sorte, sabe que vai precisar.
Então esperei para que ele me olhasse - sabia que acabaria o fazendo. Não levou tempo até que ele olhasse em meus olhos. Pisquei um olho só e então fui embora.
O silêncio soou mais alto que meus próprios passos, e eu sorria, por mais que sentisse alguma coisa estranha por dentro, querendo transbordar. Segurei. Não adianta esperar atitude de quem não tem.

domingo, 20 de novembro de 2011

vivendo e aprendendo

“Só me puteio por te me enganado outra vez.
Mas gosto de perceber que as dores são cada vez mais rapidamente superadas.”
Caio Fernando Abreu