quinta-feira, 24 de maio de 2012

pulso involuntário

- As vezes, encontramos um alguém que faz a gente se sentir capaz de qualquer coisa. Que parece fazer teus problemas sumirem por uma fração de segundos, ou mais. Que te faça soltar um riso histérico, uma gargalhada que tu não dava há meses. Que te deixa com vontade de enfrentar teus problemas, porque quando tu tá com ela, te bate uma força.
Disse minha professora de sociologia. Eu e ela havíamos saído para almoçar. Acontecera poucas vezes antes, ela sempre estava corrigindo ou fazendo provas, trabalhos, lendo livros importantes ou ocupada com seus respectivos filhos. Já estávamos no cafézinho, quase indo pagar a conta.
- Parece frase montada, mas é mesmo verdade... As vezes realmente damos a sorte de achar um alguém que dê graça ao nosso dia a dia - ela finalizou, sorridente. Deu um trago no cigarro e então me olhou nos olhos, inclinando a cabeça e acabando por me olhar por cima dos óculos meia-lua. - Você está sorrindo... Em quem está pensando? - indagou, ajeitando os óculos e voltando a tragar o cigarro, já quase no final.
- Eu? - perguntei, surpresa - Ah, num amigo meu - respondi, honesta, conseguindo imaginar o sorriso dele perfeitamente na minha cabeça.
- Sabe o que acontece, jovem? - ela disse, agora séria e bebericando seu café - Não é ele quem tu valoriza ao máximo, é? Quer dizer, pode até ser - ela disse, dando um trago no cigarro e soltando sua fumaça enquanto organizava seu raciocínio - Mas, me diga, é ele quem define teu humor? Quem tu daria de tudo para passar um dia inteiro ao lado? É nele que tu pensa antes de dormir? É ele que tu tenta impressionar? É a opinião dele a que mais importa? - ela falou, agora sem um sorriso no rosto.
Aposto que eu já não estava mais sorrindo também.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

venda de seda

"I get this feeling sometimes,
like there's nothing in the world
that can't be mine"
The Kooks
Mania de achar que posso ter tudo o que quiser na hora que quero enquanto a vida vai mostrando que não é bem assim. Tentar controlar a fortuna mal sabendo da perda de tempo que está me causando. Chamaria isso de falta de olho nos olhos, mas descobri que não é falta de conversa. É só um mesquinho receio de não ter o melhor possível ao se dedicar por isso. Aperta, sufoca, aflige... mas eu preciso soltar as rédias. Aceitar que, por mais que eu tenha meus momentos sozinha na praia deserta, a cidade espera com o centro conturbado e turbulento. Faz parte e eu não posso fingir que ainda não aprendi.