segunda-feira, 28 de novembro de 2011

plantou, colheu

- Você não tem coragem de olhar nos meus olhos - falei, encarando-o enquanto seu olhar permanecia nos próprios pés.
- Não - respondeu, seco.
- Porque não? - perguntei, impaciente, sabendo a resposta.
- Porque você está certa, e eu preciso ir - falou, se levantando dos degraus daquela praça vazia com cheiro de grama molhada.
O sol batia no cabelo dele, fazendo a cor ficar ainda mais viva. Ele já ia andando, pretendendo me deixar ali, plantada, assistindo-o ir embora mais uma vez.
- Sabe, - falei, alto, fazendo com que ele parasse de andar para me ouvir, ainda de costas - se você realmente for embora, não vou te dar outra chance.
Então ele deu meia volta, com uma mão em cada bolso. Parou em minha frente e esperou que eu continuasse.
- Porque faz isso? - perguntei.
- Sabe que não tenho escolha - falou, cabisbaixo, ainda sem olhar para mim.
Soltei uma risada irônica e então me levantei dos degraus.
- Boa sorte, sabe que vai precisar.
Então esperei para que ele me olhasse - sabia que acabaria o fazendo. Não levou tempo até que ele olhasse em meus olhos. Pisquei um olho só e então fui embora.
O silêncio soou mais alto que meus próprios passos, e eu sorria, por mais que sentisse alguma coisa estranha por dentro, querendo transbordar. Segurei. Não adianta esperar atitude de quem não tem.

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